Dez razões para não votar no PS
Em todas as democracias há sempre alguma contradição entre o interesse nacional e o interesse dos partidos em ganhar eleições e atingir o poder, o que implica uma leitura partidária inquinada da realidade. É a qualidade dos dirigentes e a dimensão estratégica do seu pensamento e do seu programa que permite a máxima coincidência entre os dois interesses.
Depois do PSD de Cavaco Silva, a política portuguesa tem sido dominada pelo PS e enquanto Mário Soares possuía elevadas qualidades humanas e intelectuais e uma estratégia – consolidar a democracia e aderir à União Europeia – os dirigentes posteriores e presentes não possuem as mesmas qualidades e sobre todos José Sócrates e António Costa. A motivação principal de ambos é o poder e António Costa para o conseguir está disponível para fazer tudo o que for necessário e só considerar marginalmente o interesse nacional nas opções e decisões da governação.
Esta característica do Secretário Geral do PS e Primeiro Ministro, esteve sempre presente antes a durante toda a legislatura e tornou-se agora ainda mais visível neste período pré-eleitoral. No passado, desde a forma como substitui o seu camarada de partido António José Seguro, a quem nunca ajudou a fazer oposição ao PSD, esperando o momento de o poder substituir e sem quaisquer considerações éticas. Depois, fabricando a geringonça, não por ser uma solução de esquerda – António Costa é, quando muito, um burguês descendente de uma família de esquerda – mas porque era a solução que, tendo perdido as eleições, lhe permitia chegar ao poder. Ao fazer essa opção António Costa sabia bem que teria de assumir decisões no Governo herdadas do PREC, contrárias ao interesse nacional e destinadas a satisfazer ideologias do século XIX, mas nunca hesitou, procurando apenas, em alguns casos, reduzir os danos em questões de fundo, mas aproveitando a popularidade resultante de todas as medidas desenhadas para obter esse efeito.
Esta é a razão porque as medidas do PS na legislatura foram sempre de muito curto prazo, destinadas a agradar aos eleitores no imediato, a favorecer as sondagens e a ganhar as eleições. Razão porque sistematicamente as decisões se destinam a tentar resolver algumas consequências de problemas visíveis, mas nunca as suas causas. Por exemplo: (1) O Governo reduziu as propinas nas universidades para todos e não apenas para os que precisam e criou escolas especiais para combater o insucesso escolar, em vez de desenvolver um verdadeiro sistema de creches e de ensino pré-escolar de qualidade, com alimentação e transporte. Essa seria a solução que serviria o interesse nacional, a solução que resolveria de vez ambos os problemas: o insucesso escolar e o acesso à universidade; (2) O Governo reduziu o custo dos passes dos transportes públicos em vez de promover o seu investimento e o alargamento a mais cidadãos de outras zonas das cidades que utilizam transportes individuais por ausência de alternativa; (3) A manutenção do défice tarifário na energia, dinheiro que poderia ser investido em mais e melhores transportes, mas que o Governo manteve para não desagradar a mais eleitores aumentando os preços, ou para não desagradar aos chineses e a António Mexia reduzindo-lhes as contribuições do Estado; (4) O Governo reduziu as horas de trabalho dos funcionários públicos, em vez de melhorar os serviços aos utentes, nomeadamente na saúde e na educação; (5) A redução do IVA na restauração, medida de curto prazo, em vez de qualificar o excesso de oferta de milhares de cafés e de restaurantes que vivem na marginalidade económica, com baixa produtividade e que são um remendo social insustentável; (6) o Governo promoveu por esta via a economia dual, um verdadeiro cancro de baixa produtividade instalado em metade da economia, a metade mais pobre, em vez de promover a qualificação dos trabalhadores de forma a poderem deixar esse sector pobre e contribuírem para ajudar a desenvolver o sector da economia mais moderno e mais produtivo.
Nesta enumeração, deixo de fora toda a casta de iniciativas de propaganda pagas pelos cidadãos, como as sondagens feitas pelo ministério das Finanças para saber o estado de espirito dos cidadãos, com as autarquias em roda livre para todo o tipo de gastos com o objectivo de agradar aos eleitores. Não menos importante, são as justificações dadas pelo PS e pelo Governo para os erros cometidos e para as mordomias da grande família socialista, que são profundamente deseducativas para o País, com graves implicações a médio prazo. Refiro-me, como os casos mais grave, os ataques à Justiça, as justificações para a existência de tanta corrupção e a marginalização das Forças Armadas e policiais. Casos estes. em que o Presidente da República partilha as culpas.
Finalmente, o estado de sitio a que o Governo conduziu o País com origem na greve dos camionistas e a abertura do Governo para rever a lei da greve, mostra duas coisas: a primeira é que o Governo, mais uma vez, procurou atacar os efeitos, neste caso os baixos salários e a baixa produtividade, combatendo o seu resultado que são as greves; a segunda é que em vez de promover a conciliação dos interesses em presença, usou as Forças Armadas numa questão laboral, para mais no sentido de favorecer as empresas de transportes, algo que só foi possível no anterior regime.
O Governo em vez de procurar reorganizar o sector em moldes modernos, não apenas não o fez como aceitou as práticas ilegais das horas extraordinárias pagas por fora e assumiu as dores da ANTRAM, através de um socialista, amigo de António Costa, com vários cargos públicos, mas agora a assessorar a associação patronal junto do Governo.
O Governo do PS de António Costa é o exemplo acabado do populismo, ou seja, tudo fazer para agradar aos eleitores, apesar de atacar por todas as vias a concorrência populista dos outros. Esse populismo é usado no sentido de defender os interesses de poder de António Costa e as muitas mordomias da família socialista e não o interesse nacional e o desenvolvimento e o progresso do País, nomeadamente porque as opções do Governo são de curto prazo e atacam, quando muito, apenas alguns efeitos mais evidentes, mas ignoram sempre as causas. Por isso, votar no PS em Outubro, é manter, ou agravar, este erro de avaliação dos grandes problemas nacionais e condenar Portugal a ser o carro vassoura da União Europeia.
Henrique Neto
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